domingo, 15 de setembro de 2013

A 17 de SETEMBRO de 1850 nasceu


alto funcionário administrativo,
político, deputado, jornalista,
escritor e poeta português (m. 1923).






O Primeiro Filho(Carta ao amigo Bernardo Pindela)

Entre tanta miséria e tantas coisas vis
Deste vil grão de areia,
Ainda tenho o condão de me sentir feliz
Com a ventura alheia.

À minha noite triste, à noite tormentosa,

Onde busco a verdade,
Chegou com asas d'oiro a canção cor-de-rosa
Da tua felicidade.

És pai, viste nascer um fragmento d'aurora

Da tua alma, de ti...
Oh, momento divino em que o sorriso chora,
E em que o pranto sorri!

Que ventura radiante! oh que ventura infinda!

Olímpicos amores
Ter frutos em Abril com o vergel ainda
Carregado de flores!

Deslumbramento!... ver num berço o teu futuro

Sorrindo ao teu presente!...
Ter a mulher e a mãe: juntar o beijo puro
Com o beijo inocente!...

Eu que vou, javali de flanco ensanguentado,

Pelos rudes caminhos
Ajoelho quando escuto à beira dum valado
Os murmúrios dos ninhos!

Em tudo que alvorece há um sorriso d'esperança,

Candura imaculada!...
E quer seja na flor, quer seja na criança
Sente-se a madrugada.

Quando, como um aroma, o hálito da infância

Passa nos lábios meus
Vejo distintamente encurtar-se a distância
Entre a minh'alma e Deus.

A mão para apontar o azul, mão cor-de-rosa

Que aconselha e domina,
Será tanto mais forte e tanto mais bondosa
Quanto mais pequenina.

Guerra Junqueiro, in 'Poesias Dispersas'

Sem comentários:

Enviar um comentário